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Allen_Jones_Jump_65Essa é uma história verídica, enviada por uma leitora e adaptada para o BlogSouBi. O nome dos personagens são fictícios para preservar as identidades. Boa leitura.

Acabei de conhecer Andreia em um bate-papo chamado Mirc. Não tenho o costume de entrar nessas coisas, mas meus contatos do MSN estavam batidos, quis explorar outros ares. Em poucas horas percebi que tínhamos muito em comum.

Minha vida offline ficou mais curta depois que a conheci. Enquanto estava com meus amigos, só queria voltar para o bate-papo para falar com ela. Entrei com meu nome de costume, Júnior.

O telefone tocou. Era uma amiga me convidando para ir à piscina. Declinei. Preferi continuar a conversa com Andreia.  Engatamos um papo de relacionamento. Ela contou que o ex havia terminado o namoro no dia de seu vestibular. Menti que também havia acabado um relacionamento recentemente, o que não deixava de ser verdade, exceto pelo fato de que não foi duradouro, tampouco um namoro. Foi mais um rolo, mas quis dividir com ela. Talvez para ficarmos mais próximos, visto que estava me contando algo mais íntimo, ou para mostrar que ela não sofria sozinha por amor.

As semanas se passaram e estávamos cada vez mais íntimos. A conversa fluía sem pausas, uma história atrás da outra, regada a muitas risadas. Estranho dizer, mas ficava triste quando ela não estava online. E o coração pulava de alegria quando via a janelinha subindo informando que ela acabara de se conectar. O tempo passou e nós já tínhamos virado amigos de infância.

Começamos a contar um ao outro a programação do dia. Eram relatórios mesmo, com horário de chegada e de saída. O nosso papo no MSN era exclusivo. Colocávamos o status no ausente para não conversar com mais ninguém. As horas voavam. Na verdade, eu nem tinha mais tanta vontade de sair. Só torcia para chegar logo o fim de semana para poder sentar em frente ao computador. Não existia banda larga na cidade em que eu morava, ainda usávamos a arcaica internet discada. Por isso, eu só podia entrar depois da meia-noite ou final de semana. Andreia morava na capital, entrava a qualquer hora.

Então começamos a trocar e-mails diariamente. Mensagens grandes, com narração de tudo o que se passou durante o dia. Andreia falava com mais facilidade sobre a vida. Eu sabia até nomes de homens com quem ela havia se envolvido. Eu contava uma coisa ou outra, gostava mais de saber sobre ela. Talvez porque não tinha muito o que falar. Ou não queria.

Todo o dia 14 a gente comemorava aniversário de “conhecimento” com e-mails gigantescos. Eram dois, três, quatro e-mails por dia. E incluíamos cartões virtuais nessas nossas trocas. Até passamos a assistir TV juntos. Enquanto teclávamos, comentávamos o que estava passando na TV. Quando viajávamos ou íamos para algum canto que não tivesse acesso à internet, decorávamos tudo o que aconteceu para poder contar na primeira oportunidade. Em poucos meses, toda a história já havia tomado outro rumo. Um rumo que eu não queria, nem nunca pensei ser possível. Por diversos motivos. Como consegui me envolver tanto com uma pessoa que eu nem conhecia pessoalmente? Minha razão dizia que já era hora de parar. Depois de quase um ano de amizade, comecei a namorar. Mas não contei a Andreia. Fiquei ausente da vida dela por duas semanas. Era uma tentativa de afastamento.Então criei coragem pra falar. Por tudo o que já já acontecido, eu sabia que nossa história poderia terminar. Parte de mim queria isso. Vomitei várias palavras até conseguir escrever que estava namorando. Ela pareceu ter ficado triste, sugeriu que a gente se afastasse por um tempo. Desejou tudo de bom e disse que estava torcendo pela minha felicidade. Encerrou o assunto e saiu dando a desculpa que não estava bem.As conversas ficaram mais frias, secas, sem muitos detalhes da vida de cada um. Mas aos poucos, o papo foi voltando a fluir. Eu não conseguia resistir aos e-mails dela. Sempre que podia, respondia. Quatro anos se passaram e resolvi mandar um e-mail diferente. Dessa vez para me livrar da culpa de prendê-la nessa amizade. Agora não teria volta. Assim que eu falasse tudo, com certeza ela se afastaria de mim.Confessei que a pessoa das fotos não era eu. Por isso nunca quis encontrá-la. Pedi desculpas sinceras e disse que não diria meu nome verdadeiro, porque ela já não me veria como antes. Ela retrucou como imaginei, com raiva e magoada. O que eu tinha feito não tinha perdão.Tentei não entrar mais naquele e-mail, que era uma das ferramentas de minha farsa. Mas o aniversário dela chegou e resolvi parabenizá-la. Para minha surpresa, ela tinha me enviado uma mensagem três dias antes. Foi a deixa para voltarmos a nos falar, mas com intervalos mais longos, falávamos uma vez ao mês.

Os assuntos se tornaram banais, com frases curtas. Levamos essa louca amizade por mais alguns anos. Nove, para ser mais exato. Tínhamos muita coisa em comum (mesmo). Eu estava namorando, ela também. Ela estava com casamento marcado para o mesmo ano que o meu, mas disso ela não sabia. Na verdade, ela sabia muito pouco sobre minha vida. Sempre foi assim.Nessa altura eu já estava morando na capital. Em um dos raros papos que tivemos, Andreia citou alguns detalhes de seu carro. Um dia, voltando do trabalho e passando pela região em que ela trabalhava, notei um veículo com as mesmas características. Mas o que me fez ter certeza foi um bichinho de pelúcia pendurado no retrovisor. Deixei um bilhete e um bonequinho.

No dia seguinte, mandei um e-mail perguntando se ela tinha gostado. Andreia respondeu surpresa, dizendo que nunca imaginaria que aquilo tivesse sido deixado por mim. E então ela desembuchou. Disse que sempre falava demais da vida dela e eu de menos. Ela não sabia nada da minha vida, enquanto eu conhecia até o carro dela.

Finalmente tive coragem de revelar toda a verdade. Feita a confissão, tinha certeza que nunca teríamos contato outra vez. Falei. Falei que todo esse tempo ela estava conversando com uma mulher. Uma mulher que nunca havia se envolvido com outra mulher. E estava prestes a se casar com um homem e sonhava ter filhos e constituir uma família. Que fez a besteira de entrar em um bate-papo se passando por outra pessoa para tirar dúvidas e não mediu as consequências.

Acabei revelando toda a minha identidade. Ela me achou no Facebook e 15 dias depois nos encontramos no trânsito por acaso. Ela entrou no posto para abastecer. Entrei atrás. Fiz sem pensar, ela não me viu. Quando cheguei perto dela, o coração disparou. Não me dei conta de que ainda não estava preparada para ficar cara a cara com a mulher que enganei por tanto tempo. Nos abraçamos e falamos coisas como “finalmente”. A conversa durou pouco mais de dois minutos. Fiquei nervosa, sem saber o que falar, então achei melhor me despedir logo. Eu só queria que ela me olhasse nos olhos de uma vez por todas. Nunca mais nos vimos. Foram nove anos esperando por essa cena e finalmente aconteceu.

Hoje estou casada e muito feliz. Ela está prestes a se casar também. Continuamos a trocar mensagens, praticamente todos os dias. Falamos sobre casamento, viagens ou qualquer besteira. Nem parece que o Júnior um dia existiu. Geralmente puxo assunto. Até tento me segurar para não falar muito e criar uma situação chata. Sempre pensei nela e no Júnior juntos. É como se eu quisesse estar na pele dele, sabe? Mas não consigo me imaginar com ela como casal.

Acho estranho esse meu interesse por Andreia. Estranha também foi minha vontade de se passar por homem. Penso que foi a pessoa que me conquistou, independentemente de ser homem ou mulher. É a única explicação que me vem. O interessante é que quando estou com meu marido, nem lembro direito dela. Mas durante a semana, no trabalho, fico louca para conversarmos.

Sei que não sou 100% hetero. E devo ter uma resistência forte referente a isso. Para ser sincera, até prefiro ter. Não digo que nunca vou me envolver com uma mulher, mas espero que meu marido sempre me complete.

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A história da leitora é um interessante debate. Não seria tudo isso uma forte negação? Ou é apenas uma fantasia que ela gosta de viver para fugir um pouco da realidade? Vamos discutir. 

CasaishomossexuaisUma parte importante da aceitação da sexualidade é descobrir que há milhões de pessoas iguais a você pelo mundo. Não saberia descrever o quanto me sinto bem ao assistir a um beijo lésbico em algum bar ou de saber que meu vizinho é gay ou bissexual.

É um sentimento de pertencimento. É ter a sensação de que você não está sozinha no mundo.

Com a emocionante obra “Todo o amor é igual“, o fotógrafo Braden Summers conseguiu reforçar todas essas sensações positivas em mim. Ele me fez acreditar no cenário que sempre vislumbrei: o mundo me aceita, todas as religiões compreenderam que isso não é pecado e não há mais violência, nem preconceito. Só amor.

Para transmitir tanta esperança e beleza, Summers viajou durante seis semanas ao redor do mundo clicando casais no Reino Unido, França, Índia, Líbano, Brasil e Estados Unidos.

Agora é a vez de vocês de se emocionarem. Coloquem uma música de fundo (minha sugestão é I Wish You Love, com Rachel Yamagata) e deixem os slides abaixo rolarem.

Vou adorar saber o que sentiram. Compartilhem.

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CamaleaoUm grupo de lésbicas pode se tornar quase uma religião. Tem pregação e tudo: “Não gostamos de homens, não vamos a lugares que têm homens e em hipótese alguma beijaremos homens, porque temos nojo”, Se uma integrante desse grupo for contra qualquer preceito, corre o risco de ser duramente criticada.

As amigas heterossexuais das lésbicas também as reprimem: “Você falando de homem? Ah, para, você gosta de mulher, não sabe avaliar a beleza masculina”. Ser lésbica convicta é isso, é nunca desviar do seu caminho.

Exageros à parte, há de fato mulheres que nunca sentiram a perna tremer ao ver um par de calças. A química nunca bateu e acabou. Mas há lésbicas que na verdade são bissexuais e não sabem ou nunca se permitiram saber. Explico. Entrar no mundo GLS é realmente muito, mas muito bom. As pessoas têm a cabeça mais aberta, você vai a uma festa e nenhum homem fica te puxando pelos cabelos. E o relacionamento com uma mulher é algo absurdamente intenso. É um mundo ótimo, confesso.

E sair dele é difícil. Muitas “lésbicas” já confessaram se sentir atraídas pela ala masculina, mas não quiseram correr o risco de experimentar e gostar. Outras experimentaram. Esses dias, uma amiga contou que a colega de trabalho dela era lésbica e acabou casando com um homem.

Achei a história interessantíssima. Se uma “heterossexual” que namorou vários homens pode se ver apaixonada por uma mulher, uma “lésbica” também pode se apaixonar por um homem em dado momento da vida. E por que não?

Muita gente poderia falar: “Ah, mas ela só está casando com um homem por conta da sociedade. Na verdade ela é lésbica”. É a mania que o ser humano tem de colocar tudo dentro de uma caixinha e criar sempre uma regra. Não, ela não precisa ser lésbica a vida toda se ela se apaixonou por um homem. O amor é muito mais complexo do que um gênero. Acreditar que só podemos nos apaixonar por um sexo é racionalizar muito algo que não dá para racionalizar.

É por isso que eu gosto muito da frase de um colega meu: “Eu estou vegetariano”. Ou seja, nós somos seres mutantes. A vida nos muda, as pessoas nos mudam. Uma viagem pode nos mudar. Um trabalho pode nos fazer pensar totalmente diferente. Você nunca será a mesma pessoa deste exato minuto. Depois de ler esse texto, inclusive, você pode pensar totalmente diferente do que pensava há cinco minutos. E pode se permitir sentir coisas totalmente novas.

Se permita mais, reflita mais e não se enquadre em um grupo ou um tipo de pessoa. Você pode ser quem você quiser, desde que você realmente queira.